E se as cidades conseguissem, com uma só medida, reduzir a obesidade e a depressão, aumentar a produtividade e o bem-estar e diminuir a incidência de asma e doenças cardíacas nos seus habitantes? As árvores urbanas oferecem todos estes benefícios e muito mais: filtram o ar, ajudando a remover as partículas finas emitidas pelos carros e fábricas, retêm a água da chuva e diminuem as despesas com o aquecimento.
Num novo relatório, realizado pela organização estadunidense "A Conservação da Natureza", os cientistas defendem que as árvores urbanas são uma importante estratégia para a melhoria da saúde pública nas cidades, devendo ser financiadas como tal.
“Há muito tempo que vemos as árvores e os parques como artigos de luxo; contudo, trazer a natureza de volta para as cidades é uma estratégia crítica para se melhorar a saúde pública”, disse Robert McDonald, cientista e co-autor do relatório.
Todos os anos, entre 3 e 4 milhões de pessoas morrem, em todo o mundo, devido à poluição atmosférica e aos seus impactos na saúde humana. A poluição do ar aumenta o risco de doenças respiratórias crónicas, havendo estudos que a associam ainda às doenças cardiovasculares e ao cancro. As ondas de calor nas zonas urbanas também fazem milhares de vítimas, por ano. Vários estudos têm demonstrado que o arvoredo urbano pode ser uma solução eficaz
em termos de custos para ambos estes problemas.
Apesar de todos os estudos que documentam os benefícios dos espaços verdes, muitas cidades ainda não vêem a ligação entre a saúde dos moradores e a presença de árvores no ambiente urbano.
Robert defende a necessidade da cooperação entre diferentes departamentos e a inclusão da natureza nos debates sobre ordenamento urbano.
“Não é suficiente falar-se apenas das razões que tornam as árvores tão importantes para a saúde. Temos de começar a discutir as razões sistemáticas por que é tão difícil para estes sectores interagirem – como o sector florestal pode começar a cooperar com o de saúde pública e como podemos criar ligações financeiras entre os dois”, disse o investigador.
“A comunicação e a coordenação entre os departamentos de parques, florestas e saúde pública de uma cidade são raras. Quebrar estas barreiras pode revelar novas fontes de financiamento para a plantação e gestão de árvores.”
O cientista dá como exemplo a cidade de Toronto, onde o departamento de saúde pública trabalhou em conjunto com o florestal para fazer frente à ilha de calor urbano. Como muitos edifícios em Toronto não possuem ar condicionado, os dois departamentos colaboraram de forma a colocarem, estrategicamente, árvores nos bairros onde as pessoas estão particularmente vulneráveis ao calor, devido ao seu estatuto sócio-económico ou idade.
Foto:theuniplanet.
O relatório diz ainda que o investimento na plantação de novas árvores – ou até na manutenção das existentes – está perpetuamente subfinanciado, mostrando que as cidades norte-americanas estão a gastar menos, em média, no arvoredo do que nas décadas anteriores. Os investigadores estimaram que despender apenas 7€ por pessoa, por ano, numa cidade do Eua, poderia cobrir o défice de financiamento e travar/frear a perda de árvores urbanas e dos seus potenciais benefícios.
Outros trabalhos também têm mostrado que o arvoredo urbano tem um valor monetário significativo. Segundo um estudo do Serviço Florestal do Eua, cada 0,70 euros gasto na plantação de árvores tem um retorno de quase 5 € em benefícios públicos.
Num outro estudo, uma equipa de investigadores da Faculdade de Estudos Ambientais da Universidade do Estado de Nova Iorque concluiu que os benefícios das árvores para as mega-cidades tinham um valor médio anual de 430 milhões de euros, o equivalente a 1 milhão por km2 de árvores. Isto deve-se à prestação de serviços como a redução da poluição atmosférica, dos custos associados ao aquecimento e arrefecimento dos edifícios, das emissões de carbono e a retenção da água da chuva.
Sabia que as árvores podem salvar vidas?
Em primeiro lugar, elas filtram o ar e ajudam a remover as partículas finas emitidas pelos carros, centrais elétricas e fábricas, responsáveis por danificar os pulmões e causar a morte de aprox. 3,2 milhões de pessoas por ano. Embora o seu efeito varie de cidade para cidade, de um modo geral, as árvores melhoram a qualidade do ar.
Outro aspeto importante é o da temperatura. O arvoredo urbano consegue arrefecer os bairros entre 0,5˚C e 2˚C, nos dias de Verão mais quentes – um fator que pode ser vital durante vagas de calor. Estudos revelaram que cada grau adicional numa vaga de calor leva a um aumento de 3% ou mais na taxa de mortalidade.
As vantagens não se ficam por aqui: como as árvores arrefecem os bairros, a sua presença pode resultar em poupanças de energia devido à diminuição do uso do ar condicionado. Para além do embelezamento visual, o arvoredo também retém a água da chuva, contribui para a valorização dos imóveis e para uma melhor saúde mental.
Os investigadores sugerem que, em média, uma campanha de arborização bem gerida é tão rentável, em traços gerais, quanto outras estratégias para reduzir a poluição, devendo ser usada em conjunto com estas e não em sua substituição.
No entanto, a arborização tem de ser bem planeada e gerida, atendendo a fatores como as características das espécies arbóreas (adaptação ao clima e solo, eficiência na redução da poluição), a localização e o espaçamento entre as árvores, os padrões do vento e a disponibilidade de água, etc.. Algumas cidades cometem o erro de não plantar um conjunto variado de espécies, o que pode levar a que as árvores sucumbam todas à mesma doença. Devem-se também evitar as árvores que aumentam os níveis de pólen no ar e as alergias.
O estudo revela que, das cidades analisadas na Europa, Lisboa - Portugal, seria a 9ª que mais beneficiaria com a plantação de árvores, relativamente à diminuição do calor urbano. A nível global, o retorno sobre o investimento na arborização é mais elevado em cidades densamente povoadas com níveis consideráveis de poluição atmosférica, como no México ou nos países do sudeste asiático. A seguinte tabela mostra as 10 cidades onde se verifica o maior retorno sobre o investimento, tanto a nível da redução da poluição como do calor.
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Fonte:
The UniPlanet